domingo, 10 de janeiro de 2016

SONÂNCIA



No desabrigo sob cordas,
Deslizes a compor o som:
Espelho por onde vão os dedos
E a calma,
Lançando flores
Em paisagens imaginárias.

Crinas friccionando aço;
Levantar de resina,
Que no vai e vem de braço,
Faz arder a pele em sol já posto,
Desaguando irmãs cachoeiras.

Anatomia de madeiras
Unidas à acústica homogênea
De quatro temperamentos:
Doçura, profundidade,
Ressonância e imponência.

No interior,
Esconde-se o ar do corpo,
A barra e a alma...


Sávio Oliveira Lopes

EU BAGUNÇADO






Tenho manias de sorrir
Nas horas sérias
E ficar triste em festas.

Incomoda-me a minha cólera
Nem sempre necessária
Ao que me desagrada...
Contra isso, tento carregar
Tranquilidade postiça.

Ainda não sei quem sou,
Mas sei que o que sou
Não é bem
O que eu queria ser.

Dois amores que não mais tenho
Também põem dor na vida que levo,
E meu coração procura a sombra
Como ave perdida e cansada.

Ser mortal
É das verdades que sei a mais triste,
E só a esqueço para ser feliz às vezes.

O contra-ataque que encontrei à morte
Há de ser minha realização consumada
De sair da vida deixando a alma nos livros.

Sávio Oliveira Lopes